
Se meu livro de 2019 tivesse uma capa, seria o desenho de Davi*: As afeturas da Mariana. *Davi, 06 anos, autor dessa ilustração e de outras obras de arte.
Enquanto 2018 foi um terremoto que chacoalhou minha vida inteirinha, fazendo ruir algumas certezas e abalando meu coração sísmico, 2019 foi um ano intenso, forte e transformador.
Se em 2006 tirei permissão pra dirigir, 2019 me dei permissão para viver. Eu, que nunca fui dada a moderações, mergulhei de cabeça em tudo o que a vida me ofereceu. Quebrei alguns dentes, mas vivi as aventuras mais gostosas da minha vida.
Ou melhor: afeturas. Afinal, de que valem as aventuras sem afeto?
Descobri que metade de mim é porralouca, aventureira, desapegada e maluca. E a outra é afetuosa, romântica, carinhosa e sensível. Quem vive afeturas ama a liberdade, mas adora um chameguinho. Viaja sozinho, mas volta cheio de amigos. Gosta de mato e solidão, mas não vive sem gente e cafuné. Salta de paraquedas no mundo, mas mergulha mesmo é nas pessoas. Quem é das afeturas não gosta da superfície: ama em profundidade.
E em 2019 teve surra de amor.
Teve o mais nobre e necessário dos amores: o próprio. Com anos tão intensos e cheios de aprendizado, amei a mulher que me tornei e me apaixonei pela solitude: me senti mais forte e mais viva. (Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro). Teve também o mais desnorteador dos amores, a paixão. Me apaixonei, desapaixonei, apaixonei de novo, me entreguei, caí, levantei, me expus, morri, voltei. (Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro).
Amar é pros corajosos. É pra quem está disposto a se afeturar por aí e voltar cheio das cicatrizes. Amar é que nem sonhar que está pelado na escola: deixa a gente exposto e vulnerável. E também um pouco burro.
Amar é a maior das afeturas.