
A morte é o jeito mais enlouquecedor (e doloroso) de nos lembrarmos da vida.
Quem parte deixa pra quem fica um recado de que isso aqui é passageiro, por mais que insistamos em viver como se não fosse.
Quem se vai nos lembra da morte. Quem se vai nos lembra da vida.
Ah, a vida. Esse despertador matinal que diz "ei, acorda, você tem o privilégio de um coração batendo". Não vale botar soneca, não vale adiar o compromisso com a existência. Cada segundo é precioso. Você nunca sabe quando o despertador para de tocar.
Se a morte é nossa maior certeza, por que vivemos como se não fôssemos conhecê-la?
Nos preocupamos com pouco. Invertemos prioridades e supervalorizamos pequenices.
Nos podamos muito. Perdoamos pouco. Criamos regras demais. Arriscamos pouco.
Nos cobramos demais. Enlouquecemos pouco.
Somos caretas demais.
Quem morre são os outros, não a gente. "Fulano está com os dias contados".
E não estaríamos todos?
Desde o dia em que nascemos, estamos com os dias contados.
A morte é destino certo, e lembrarmos dela deveria ser menos assustador, mais transgressor.
De que valem nossas inseguranças, medos e vergonhas, se vamos todos morrer um dia?
O que ficam são nossas experiências, relações, aventuras.
Nossas marquinhas nesta tão preciosa chance que nos foi dada: a vida.
Então vivamos de alma despida, de sorrisos sinceros, de gargalhadas espontâneas. De danças esquisitas, beijos demorados e abraços quentinhos. Que sejamos movidos por paixões, sonhos e desejos.
Que não nos falte fome de existência, gana de felicidade.
Que não empurremos com a barriga.
Que não desrespeitemos a nossa própria verdade.
Dedico este texto ao meu colega de trabalho, Leo. Ele me ensinou que, na vida, o que vale é ser autêntico. Leo se foi sem deixar a menor dúvida de quem era. Do que gostava. O que pensava. Leo ocupou seu espaço de forma tão significativa e presencial, que parte deixando um buraco. Mas o buraco fica é na gente, porque ele foi completo. Conseguiu cumprir a missão mais difícil e receosa dessa vida, que é: ser você mesmo.
Dedico também à pequena Mallu.
E a todos que já partiram.